Artigo originalmente publicado no Informativo Pampa Pampiano
O uso das técnicas de transferência de embriões (TE) e fertilização in vitro (FIV) nos rebanhos Hereford e Braford tem crescido nos últimos anos,com objetivo de acelerar a multiplicação dos animais geneticamente superiores (Figura1).
A adoção dessas técnicas pode apresentar grandes vantagens ao melhoramento genético, porque possibilita o aumento da intensidade e da acurácia de seleção das fêmeas e também a redução do intervalo de gerações, o que proporciona maior taxa de ganho genético. Também pode-se melhor aproveitar o sêmen de touros muito caros fertilizando vários embriões in vitro com uma única dose.
Entretanto, para efetivamente capitalizar o potencial dessas técnicas para o aumento do progresso genético, alguns cuidados precisam ser tomados. Os principais são:
- Escolha das doadoras de embriões. Essas devem ser realmente superiores, de preferência com avaliação de progênie. Mas, se o produtor decidir usar suas novilhas top para reduzir o intervalo de gerações, deve observar sua avaliação à medida que os dados de sua progênie são gerados;
- Seleção das receptoras e o registro completo de informações sobre elas;
- Avaliação genética dos animais oriundos de TE e FIV, pois, como os demais produtos do rebanho, deverão passar pelo crivo da avaliação individual e seleção.
Do ponto de vista da avaliação genética, a principal diferença é que os produtos de TE e FIV têm duas mães. A doadora, que é a mãe biológica e contribui com o desempenho de origem genética; e a receptora, que contribui com sua habilidade materna para o desenvolvimento do indivíduo (Figura 2).
Figura 2. Modelo de efeitos genético direto, genético materno e de ambiente permanente materno no desempenho até a desmama.
Portanto, o modelo de avaliação genética para características até a desmama precisa ser modificado para atribuir os efeitos maternos para a receptora e não para a mãe biológica. Embora há bastante tempo, Schaeffer e Kennedy (1989) e Van Vleck (1990) tenham proposto as fórmulas para a correta estimação dos efeitos genéticos aditivos usando informação da doadora dos embriões ou oócitos e dos efeitos genéticos materno e de ambiente permanente materno utilizando a informação da receptora, muitos programas de melhoramento ainda não utilizam esses modelos por limitação de software e disponibilidade de informação adequada para as receptoras.
A partir de 2016, com adoção do Software Intergen 1.3, desenvolvido na Embrapa Pecuária Sul, o PampaPlus passou a considerar os dados de desmama nas avaliações genéticas dos produtos TE e FIV. O principal ganho com isso é a maior acurácia da avaliação genética das doadoras, de produtos TE ou FIV e dos touros usados nesses acasalamentos. Um estudo com os dados do PampaPlus demonstrou que além desses ganhos em acurácia, melhora-se a herdabilidade e a tendência genética para o peso à desmama dos produtos TE e FIV (JUNQUEIRA, 2014).
Na Figura 3, mostramos os ganhos crescentes em acurácia das avaliações de peso à desmama de touros em função do percentual de filhos TE e FIV que possuem.
Entretanto, para que se possa usufruir desses benefícios precisamos ter necessariamente três dados das receptoras:
Identificação única dentro do rebanho, composição racial e data de nascimento
Isso é essencial para que se reconheça a mesma receptora em partos diferentes e se ajuste as diferenças de habilidade materna devido ao grupamento genético (p.ex.: entre cruzas com zebuíno vs. britânicas puras) e idade da receptora (p.ex.: primíparas vs. multíparas), possibilitando a estimativa mais acurada de seus efeitos maternos. Além disso, se a receptora for registrada, isso deve ser informado e será considerado na avaliação genética, combinando seu desempenho como produto, mãe e receptora. O percentual atual de informações completas das receptoras no PampaPlusnet é inferior a 30%, portanto, somente esse percentual de animais que pode ter avaliações mais precisas. A seguir detalha-se como proceder e informar corretamente os registros de TE e FIV no PampaPlusnet:
- Cadastrar a receptora no PampaPlusnet. Informar identificação única, composição racial e data de nascimento. Se a receptora for comprada essas informações podem ser estimadas pelas suas características fenotípicas e dentição. Se for uma fêmea controlada no rebanho ou registrada, apenas selecionar a partir da base de dados do criador. Informar a receptora somente uma vez, mesmo se ela for usada por mais de um ano.
- Cadastrar as coberturas e os nascimentos de TE e FIV. Atentar para correta seleção da mãe e receptora.
- Formar grupos contemporâneos de produtos TE e FIV. Sempre que possível manter no mesmo grupo de manejo e regime alimentar todos os produtos filhos de TE e FIV de cada safra. Buscar também a padronização da composição racial das receptoras dentro do grupo de manejo, para diminuir as diferença de efeito materno.
Uma vez adotados rotineiramente os passos acima, os criadores de Hereford e Braford que investem em TE e FIV e participam do PampaPlus poderão contar com os benefícios de uma avaliação genética mais acurada de seus produtos e, consequentemente, maior progresso genético de seus rebanhos.
Por Fernando Flores Cardoso, Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul